A propósito do post sobre Silje Negaard e sobre música e gostos musicais (mais especificamente os meus), comecei a escrever um comment que se estendeu em demasia, pelo que pensei em publicá-lo não como comment, mas como post.
Dizia eu que: “Fui descobrindo o Jazz. Gosto particularmente das sonoridades encorpadas que tanto podem adornar o ambiente de um jantar ou um serão em boa companhia, entre conversas e sorrisos cúmplices.
Mas não só. Gosto de apreciar a música em si e por si só. A riqueza das combinações que uma boa voz consegue produzir em conjunto com alguns instrumentos musicais.
Mas eu sou suspeita. Eu gosto de música pela música e encontro encantos em quase todos os géneros. Perco-me nas notas e letras de encantar das músicas do José Barata Moura, nos ritmos alucinantes das músicas latinas que me impelem a um pezinho de dança, nos sons refinados de um jazz mais intimista ou então num jazz mais arrojado de New Orleans ao mesmo tempo que mantenho uma veneração quase absoluta pelos sons mais alternativos da voz e música de Tori Amos.”
A minha passagem pela faculdade ofereceu-me, entre outras coisas, a descoberta da música, numa vertente totalmente nova até então. De uma forma absolutamente imprevisível, fui admitida no grupo Coral, sabe-se lá como, já que a minha audição aconteceu entre sessões de praxe e numa altura em que a rouquidão se tinha apoderado totalmente das minhas cordas vocais. Soube mais tarde que a minha admissão se deveu mais aos meus ouvidos do que às capacidades vocais. Certo. Eu sempre tive bom ouvido para a música e tenho realmente facilidade em apanhar os tons. Daí a ser uma prima-dona vai uma distância muito grande… até porque não tinha quaisquer aspirações a ser a “estrelinha das companhia” (tenho uma feliz consciência de que a minha voz não é nada de extraordinária) o que me permitiu desfrutar desses tempos de uma forma mais descontraída e mais curiosa sobre a música em si e do que era conseguir trabalhar com todas as potencialidades que o instrumento musical que há em cada um de nós nos oferece. Daí a ser admitida num outro grupo coral foi um passo pequenino. Esse novo grupo (ensaiado pelo maestro que me fez a primeira audição e que entretanto tinha tido necessidade de abandonar o Coral da faculdade) era mais reduzido e mais exigente, mas também mais estimulante. Cantei músicas mais ambiciosas e dei concertos mais exclusivos e em palcos refinados. Gravei um cd, que apenas gosto de ouvir por saber que entre as vozes que se ouvem se encontra a minha. Até porque acho que a piada da musica coral está em cantá-la e no gozo que isso dá. Além de achar que é uma seca para quem apenas ouve. Curiosa, esta dualidade: sou fervorosa em defender que cantar é o máximo mas, apesar disso, acho que ouvir é extremamente entediante.
Acabou-se a vida de estudante e acabaram-se estas aventuras, mas ficou o bichinho. Ficou o conhecimento de truques e técnicas e da melhor forma de tirar proveito delas. Ficou a admiração ainda mais reconhecida pelos que conseguem manobrar e tirar partido de formas extraordinárias das suas capacidades vocais. Ficou também a capacidade de avaliar quem apenas canta e quem brinca com o canto e arranca sons complexos e elaborados.
Como os bons cantores de Jazz fazem.
Pois… já alguma vez vos disse que gosto mesmo muito de música?
Sem comentários:
Enviar um comentário