quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Vamos lá queimar uns sutiãs

Como quem revive um bocadinho do movimento feminista do século passado...

Não há qualquer dúvida que muito mudou na mentalidade da nossa sociedade desde o tempo das nossas avós. Mas julgo que também ninguém tem ilusões sobre a igualdade de direitos, benefícios e afins entre homens e mulheres na nossa sociedade: eles estão em maioria na população activa, detêm uma percentagem largamente superior em posições de poder e junto dos centros de decisão e ainda se sente, em muitos aspectos e situações do nosso dia-a-dia, um machismo latente e camuflado que deixa qualquer mulher mais ambiciosa em desvantagem comparativa.
Não tenho grandes pretensões nem ilusões. Nem sequer me considero feminista. Concentro-me mais em ir cumprindo com a minha cota-parte, procurando ser competente, sem teorias de afirmação sexual nem manias da perseguição. Mesmo sentindo e tendo consciência desse machismo que ninguém admite mas todos sabem que existe.
Tudo isto porque me tenho andado a aperceber de um fenómeno curioso que acontece num concurso de televisão que dá todos os dias ao início da noite na RTP. Nesse concurso joga-se com conhecimento e bluff e de cada vez que um concorrente é eliminado passa por uma pequena entrevista onde aposta sobre quem será o concorrente com a pontuação mais elevada.
Naturalmente que há dias em que o concorrente que tem maior pontuação é do sexo masculino e nos outros é do sexo feminino. Sobre as capacidades e conhecimentos de cada género nem me atrevo a opinar (não quero ganhar nenhum prémio de gerar controvérsias na blogoesfera), mas sobre as apostas a história é outra…
…invariavelmente (nos dias em que o zapping pára neste concurso lá em casa) as apostas recaem sempre sobre… homens. Juro. Seja essa aposta feita por homem ou mulher: instintivamente o grau de confiança sobre onde está o conhecimento recai sempre sobre homens.
Não sei se é coincidência minha (e tenho o azar de só apanhar situações destas) ou é realmente um facto.
Isto revela algumas coisas. Que socialmente aceitamos como legítimo que os homens oferecem mais confiança sobre as suas capacidades e sapiência. Que os aceitamos como estando acima de nós, mesmo quando se verifica o contrário. Mesmo quando, apesar de até sabermos mais do que eles, desistimos por achar que eles sabem mais ou conhecem mais.
Mais uma vez, não sou feminista. Sou inclusive contra a existência de cotas. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer até que estejamos todos efectivamente no mesmo patamar (e passemos a ser distinguidos apenas pelas nossas capacidades individuais). 

…eu avisei, algures por aí, que este era um blog de devaneios, não avisei?...

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