Há coisas em mim que quase ninguém consegue perceber. Nem porque sou assim, nem o que me motiva, nem mesmo sequer porque gosto tanto de algumas coisas que alguém convencionou como sendo desagradáveis ou penosas...
Curiosamente tenho vindo a descobrir que sou uma espécie de raridade em alguns aspectos.
Uma dessas coisas que tanto gosto de fazer é lavar o carro. Sim, l-a-v-a-r o c-a-r-r-o!...
Calculo que goste de o fazer porque quando me dedico a isso normalmente faço-o em dias de sol radioso e quente. Ainda por cima é uma tarefa que envolve água, o que é o mesmo que dizer que quando acabo de lavar o carro estou muito mais molhada do que estava inicialmente... e isso diverte-me. Muito.
Mas não só. Faz-me bem ao humor, ao estado de espírito e permite-me arejar ideias. E a boa disposição com que fico depois é a melhor recompensa. Quer dizer... o facto de ficar com o carro lavado também ajuda, claro!...
Isto é um facto. O que tenho estranhado são as reacções do resto do mundo, quando digo que estive a lavar o carro. O facto de andar com um carro de serviço, de até poder apresentar a despesa da lavagem e ainda assim optar ocasionalmente por tratar do assunto com as minhas próprias mãos é algo que faz confusão na cabecinha de muita gente.
Lembro-me de no verão em que estava a trabalhar em Coimbra, ter ido ter um dia com os meus pais e ter aproveitado para os desafiar a irem comigo até uma fonte que existe na velhinha (e tortuosa) estrada que liga Coimbra a Penacova, para eu lavar o carro. Com eles estava um casal amigo (que me conhece desde os meus 2 anos) que acabou por nos acompanhar... e brindar com muitos comentários de estranheza e estupefacção pelo facto de eu querer (leia-se querer mesmo muito) lavar o carro pessoalmente. Choque!... Então quando disse que aquele era um carro alugado... pfff.... parecia que estavam a olhar para uma extra-terrestre… bom, com isso garanti que, enquanto eu tratava da lavagem do carro, tivesse por companhia um público exigente a chamar a atenção para as eventuais falhas na execução da tarefa, por entre um discurso moralista de que era uma vergonha que uma pessoa com as minhas funções se prestasse a fazer uma coisa daquelas.
Este é um episódio que dificilmente esquecerei...
Este fim-de-semana fiz o mesmo. Não sei se para aproveitar os derradeiros dias na casa que os meus pais venderam (na nova é impossível fazer tal coisa), se porque o carro estava realmente a precisar ou se foi resposta ao sol e ao agradável calor que se fez sentir. Sei que me deu muito gozo fazê-lo.
Também sei que arranquei um sorriso condescendente do meu (ainda) vizinho quando me viu a brincar com a mangueira e com o balde (deve ter pensado "lá vai a maluca lavar o carro outra vez!...")
E depois quando regressei à Invicta e confessei ter andado a lavar o carro fui brindada com uma gargalhada bonacheirona, acompanhada de um "só tu!..."
Não acho que lavar o carro seja uma tarefa particularmente penosa. O facto de só o fazer quando me apetece também contribui para isso, naturalmente… mas…
Uma coisa posso garantir: não vou deixar de fazer algo que me dá tanto gozo só porque o resto do mundo estranha. Mas sou pessoa para sugerir ao resto do mundo que tente desligar-se do convencionalismo de que essa é uma tarefa chata e trabalhosa e que tente perceber que é possível transformar uma tarefa destas numa grande brincadeira que, conjugada com sol, calor e água a rodos se revela ser uma coisa bem divertida…
quarta-feira, 14 de março de 2007
Singularidades de uma rapariga (pouco) loira
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