quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A incompetência da competência

Parece contraditório, mas não é. 
Vejamos o meu caso: um gestor é tão bom quanto a sua capacidade de resolver problemas e optimizar os processos, visando a produtividade dos elementos da sua equipa e promovendo as sinergias que potenciem o atingir dos objectivos traçados (sejam eles quantitativos ou qualitativos).
Esta pode não ser a definição escrita nos livros das grandes mentes da Gestão, mas é minha leitura da função que desempenho e acho mesmo que é a correcta. Aliás, não só acho que é a correcta, como ainda acho que sou razoavelmente boa no que faço (presunção qb, hmpf...) ;)
Uma das minhas convicções é que faz parte das minhas responsabilidades resolver os problemas que vão aparecendo na medida do meu alcance, sem que para isso tenha de estar sempre a socorrer-me dos meus chefes. Afinal é para isso que me pagam. Acho.
Em que é que isto - que eu associo a competência - pode passar a ser um sinal de incompetência? Eu explico...
Como eu procuro só reportar os problemas que efectivamente não consigo resolver (que são alguns, mas, por comparação, aparentemente poucos) a ideia que passa é que na minha unidade de negócio as coisas são... fáceis!!!
As noites em branco, os momentos de pânico, as dores de cabeça e os dias em que só me apeteceu sair porta fora para não mais voltar, aparentemente não transparecem e como tal são vistos como inexistentes. Assim como os problemas que eu assumo como meus e acabo por resolver. Inexistentes.
Eu sei que podia ver isto como um elogio, mas a verdade é que me deixa frustrada por achar que não passa de falta de reconhecimento pelo trabalho e esforço desenvolvidos. Pelo amor à camisola que não sinto em muitos dos meus pares.
A única conclusão a que chego é que afinal sou incompetente. Por tentar fazer o meu trabalho o melhor que posso e sei, sem procurar vender a imagem do esforço despendido.
E lá volto eu à questão da imagem... mas porque é que neste país a imagem vale mais que resultados??!?

(resta-me a consciência tranquila. e um dia alguém vai perceber o valor destas coisas. um dia. até porque a verdade vem sempre, mas sempre, à tona. é só ter paciência, Mané, paciência...)

4 comentários:

Sandra B. N. disse...

não sendo eu chefia mas fazendo exactamente o mesmo que tu: resolvo tudo o que está ao meu alcance resolver e só melgo acima de mim se o caso fôr mesmo bicudo, sofro do mesmo problema: parece que "não se passa" nada, não faço nada de especial nem que mereça qq tipo de reconhecimento ou elogio.
e acho que já devo ter feito um post sobre isto: é a falta de capacidade de fazer self-marketing que me lixa. andasse eu a espalhar aos sete ventos cada tretazinha que resolvo como se fosse mais espectacular do que ter inventado a roda, e se calhar seria vista (e tratada) de outra maneira.
assim, totó como sou, se calho de cair na asneira de me queixar da incompetência de alguém, ainda me vão achar parva, pq íam estar convictos q eu seria incapaz de fazer melhor do q o outro.

como se resolve? passa-se a fazer o tal do self-marketing. no meu caso, (ainda?) não consegui.
tenta Mané, pode ser que consigas e só terás a ganhar com isso!

quanto a esperar pelo reconhecimento, pq a verdade há-de ser conhecida - eu, com o passar dos anos estou a ficar cada vez mais "desencantada" com o mundo e, por isso, respondo-te a isso com um: não esperes sentada, pq o Pai Natal não existe.
detalhando: mais rápidamente aparece aí alguém que se fica com os louros com aquilo que tu fazes do que a chefia abre os olhos e vê a realidade tal como ela é.

boa sorte.

Paulo disse...

"...optimizar os processos, visando a produtividade dos elementos da sua equipa e promovendo as sinergias..."
Estava a começar a ficar preocupado quando li isto, mas depois descobri o teu segredo:
http://www.dack.com/web/bullshit.html
Agora a sério, existem empregos que ainda são piores nesse aspecto. Por exemplo, um responsável pelo sistema informático de uma empresa: quando faz um bom trabalho ninguém dá conta dele. Quando as coisas avariam, toda a gente lhe põe as culpas...

Sandra B. N. disse...

essa dos informáticos é tal e qual... (faço parte da espécie)

Unknown disse...

O que estás a fazer parece ser exactamente o que deve ser feito. Uma sugestão de alteração apenas, quando reportares para cima o PowerPoint com os problemas, inclui lá os resolvidos, como problemas sim, mas com uma corzinha verde agradável para eles perceberem que há mais nesse mundo e que estás a tratar disso. ;)

Miguel