Já nada é o que era. Ou pelo menos algumas coisas mudaram.
Já muito se disse e escreveu sobre a mudança social que ocorreu com o Euro 2004 em Portugal. Que as pessoas regressaram aos estádios, que as mulheres passaram a ser presença frequente, que até as famílias aderem em massa, principalmente para ver jogos da selecção nacional.
Tudo verdade, tudo já mais do que debatido, tudo explorado de mil e uma perspectivas.
Menos na minha versão muito pessoal.
No sábado fui (finalmente) cortar o cabelo. À cabeleireira do costume. Onde vão as tias da terra. O único lugar onde ponho a minha leitura cor-de-rosa em dia e onde não há lugar a mais nada além de pensamentos e conversas fúteis, do mais girlish que pode existir. Assim é e sempre assim foi. E, para mim, é assim que deve ser: é uma fuga ao mundo real, num lugar diferente, numa terra diferente e com caras diferentes das que vejo todos os dias... e onde posso ser, por umas horas, fútil, cor-de-rosa e até mesmo, quiçá, um bocadinho tia...
Pois, mas no sábado este meu mundo deu uma volta e ía caindo de pernas para o ar.
Não tive tempo de ler uma única revista cor-de-rosa (e fiquei sem usufruir dos momentos divertidos que só quem lê 4 ou 5 revistas dessas seguidas - de semanas diferentes, entenda-se - tem: as trocas e reboliços do nosso pseudo-jet-set entre casais e não-casais, com afirmações veementes numa semana e que são desmentidas na seguinte... delicioso) e dei por mim - pasme-se - no meio de uma conversa sobre futebol.
Do desempenho do Benfica e do Sporting (comigo a envenear com um comentário sobre a magnífica festa azul e branca - campeões!!!), da falta de crédito no desempenho da nossa selecção nacional e de mais uma série de coisas. Conversa de mulher, é certo, nada que se pareça com as conversas que vou ouvindo aqui e ali, no mundo de homens em que me movimento, mas conversa sobre futebol. É um princípio...
Saí do cabeleireiro mais leve (foi realmente uma grande tosquia) e com a cabeça à roda. De facto qualquer coisa mudou. Se até já nos cabeleireiros se discute futebol...
...bom, parece que vou ficar sem o meu refúgio cor-de-rosa. Ai.
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